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Protestos inviabilizaram a conclusão do evento
com a blogueira cubana Yoani Sanchez. Foto: Diego Abrahão/Divulgação.
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São Paulo assistiu na quinta-feira, dia 21, a
mais um episódio da turnê da blogueira cubana.
Via
Opera
Mundi
Quem planejava assistir a um filme, comer pipoca,
comprar um livro ou tomar um sorvetinho no Conjunto Nacional, na Avenida Paulista,
a principal fronteira do bairro “nobre” dos Jardins com o calor do mundo real, teve
a rotina transtornada na noite de quinta quinta-feira, dia 21.
Cerca de 50 jovens ativistas, a maioria pertencente
à União das Juventudes Socialistas (UJS), e outro grupo menor de militantes da direita,
cuja maior parte integrava o grupo Libertários, se confrontavam em um clima tenso,
mas pacífico, com cartazes e palavras de ordem, em frente à sala 1 do Cine Livraria
Cultura.
O motivo? Mais uma vez a blogueira Yoani
Sanchez e um dos temas que mais desperta paixões em todas as correntes políticas:
Cuba. A dissidente teve uma agenda cheia na quinta: após participar de uma sabatina
e uma coletiva de imprensa na sede do jornal O Estado de S.Paulo, na zona norte da capital paulista, e ter gravado
uma entrevista para o programa de tevê Roda Viva, da TV Cultura, ela foi convidada
para um encontro com blogueiros e uma sabatina aberta para perguntas ao público
mediada pela jornalista Barbara Gancia, do jornal Folha de S.Paulo.
No entanto, após cerca de 40 minutos do segundo
evento, os estudantes socialistas, favoráveis ao regime cubano, conseguiram entrar
na sala e começaram a gritar palavras de ordem contra a cubana, provocando a ira
de boa parte do público, que compareceu para prestigiar Yoani. Por volta das 20
horas, o evento foi cancelado e a blogueira teve de sair pela mesma forma como entrou:
por uma saída alternativa. A sessão de autógrafos de seu livro De Cuba, com carinho (Editora Contexto) também
não ocorreu.
Privado
A sede do jornal O Estado de S.Paulo foi um dos poucos locais onde a autora do blog Generación
Y conseguiu se expressar sem qualquer oposição desde que chegou ao país. Na manhã
de quinta, ela repetiu as críticas habituais ao governo cubano e deu sua versão
sobre o cotidiano da população daquele país.
Depois de ter afirmado que defender o fim do bloqueio
dos Estados Unidos à Ilha, criticou a ajuda financeira do governo da Venezuela ao
país, até mesmo no setor energético. “Não é que eu goste que nada funcione”, ressaltou,
mas diz que esse acordo se baseia “na prolongação de vida de um sistema que está
com os dias contados”. E “previu” que a possibilidade da morte do presidente venezuelano
Hugo Chavez, por problemas de saúde, já que enfrenta um câncer, poderia antecipar
negociações entre cubanos e norte-americanos.
Ainda segundo Yoani, não há socialismo em Cuba
e nunca houve comunismo. Em sua opinião, o país vive atualmente “um capitalismo
de Estado, dominado por um clã familiar onde o patrão é o governo”. E ainda “cobrou”
do governo brasileiro e da comunidade internacional uma atitude mais dura contra
violações aos direitos humanos em Cuba.
Público
Já o encontro no Conjunto Nacional foi em um clima
totalmente diferente. Desde as 17h30, os manifestantes pró e contra Yoani gritavam
palavras de ordem e cartazes, uns defendendo os irmãos Fidel e Raul Castro, outros
criticando o regime.
Enquanto um grupo gritava “Cuba, sim, Ianques,
não; viva Fidel e a Revolução!” ou “Yoani mente, bloqueio mata!” ou “Doutor, eu
não me engano, a Yoani é dos americanos”, o outro exibia cartazes “Socialismo na
Cuba dos outros é refresco” ou “Liberdade de expressão (só se eu concordar)” além
de gritos como “Livre comércio!”. Eventualmente, alguns se insultavam e apontavam
os dedos em riste para outros.
No encontro com os blogueiros, Yoani admitiu que
pode, em um futuro próximo, encerrar as atividades do blog que a tornou famosa,
o Generación Y: “A vida vai mudando, não somos mais os mesmos e após um blog nos
tornamos pessoas melhores”.
Já na sabatina, a jornalista Barbara Gancia afirmou
que não gostaria apenas de fazer perguntas fáceis a Yoani e afirmou que tirou um
texto de uma página de jornalistas no Facebook que continha “40 perguntas para Yoani
Sanchez em sua turnê mundial” e que ela “teria medo de responder” – texto na verdade,
publicado
pelo jornalista francês Salim Lamrani, originalmente em Opera Mundi. “São perguntas
que eu, como uma reacionária, não iria fazer pra você, mas não quero tornar sua
vida fácil. Mas algumas delas são banais. Por exemplo, o que interessa saber o quanto
ela ganha do [jornal espanhol] El País?”.
Yoani chegou a explicar parcialmente as questões
sobre os nomes que patrocinavam sua turnê e que faziam suas traduções para 18 línguas.
Também chegou a dizer que pretendia, no futuro, fundar um jornal no país. Porém,
com apenas 20 minutos de exposição, cerca de 20 manifestantes pró-Cuba entraram
no auditório e começaram a protestar e chamá-la de “mercenária” e agente da CIA.
Gancia, que no início da sabatina havia prometido
mostrar que, “ao contrário dos últimos dias, [os brasileiros] têm educação”, pediu sem sucesso que os manifestantes
se acalmassem e alegou que suas perguntas seriam respondidas, bastava apenas enviá-las
por escrito. Os manifestantes aceitaram e, mesmo assim, a confusão continuou.
No entanto, depois de Gancia ter dito que usaria
um santinho de Yoani, se pudesse, e de uma resposta provocadora da blogueira (questionada
sobre a razão de os cubanos não se revoltarem contra o governo, ela respondeu que
“muitos dizem que temem sofrer como Yoani”), os gritos não pararam e a sessão foi
encerrada.
Durante a confusão, uma estudante da esquerda
chegou a ser agredida por um dos visitantes anti-Cuba, colocando a mão em sua boca
e em sua cabeça. Pouco depois, o evento foi cancelado.
Para o presidente nacional da
UJS, André Tokarski, não havia intenção de interromper o evento, e os gritos, vaias
e aplausos faziam parte da livre manifestação política. “Quem já participou de qualquer
debate estudantil sabe que isso faz parte do jogo político e democrático. Não viemos
inviabilizar nada. Se ela [Yoani] não
quer isso, o que ela espera de uma democracia em Cuba?”, questiona.
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